A saúde da família do agricultor Otino Alves dos Santos, de 46 anos, depende exclusivamente de uma reação do Estado brasileiro. Otino pode ser considerado, até agora, um homem de sorte. A casa de adobe onde mora com a mulher e os nove filhos foi erguida há 14 anos, na região da Fazenda Extrema, em Posse (GO), divisa com a Bahia. O imóvel é praticamente o mesmo desde então.
Não há, nas cercanias, uma casa tão suscetível à presença de barbeiros, vetores da doença de Chagas, quanto a de Otino. Pouquíssimos vizinhos escaparam da doença. O agricultor diz que ele, a mulher e os nove filhos não pegaram. Seus pais são portadores do mal de Chagas. “Eu sei que houve um projeto para uma casa nova, que o dinheiro veio. Mas devem ter consumido ele por aí”, diz Otino. Quase seis anos depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter certificado o Brasil como país virtualmente livre do principal vetor da doença de Chagas, o barbeiro Triatoma infestans, Otino, a mulher e os filhos continuam expostos a outros vetores. Os pais do agricultor são doentes crônicos sem qualquer tipo de assistência e acompanhamento médico. A família desconhece qualquer ação do governo, nas três esferas.
O sumiço do Estado e a invisibilidade dos doentes de Chagas foram mostrados pelo Correio em série de reportagens publicadas desde domingo. Para Otino e milhares de outras famílias brasileiras não dependerem apenas da sorte, o governo tem a obrigação de integrar ações de vigilância, com a retomada do controle dos vetores, e de atenção básica à saúde, com prioridade no atendimento aos doentes crônicos, conforme estudiosos da doença de Chagas ouvidos pelo Correio. A certificação conferida ao Brasil não garantiu o fim das transmissões vetoriais e, muito menos, o fim da doença, segundo esses pesquisadores.
Fonte: Correio Braziliense
Marcello da Silva Batista
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