Noite de 10 de novembro de 2009. O evangélico Edilson Timóteo da Silva, 29 anos, cumpria horário como guarda municipal em uma escola pública de Planaltina de Goiás, quando três homens invadiram o local para roubar 10 computadores e uma televisão. O pátio estava vazio, as portas, trancadas, e o solitário vigia contava apenas com um cassetete para se defender. Amarrado e sem a chave da sala dos equipamentos, os assaltantes ameaçaram levar a moto de Edilson, que reconheceu dois criminosos — um deles tem 20 anos, várias passagens pela polícia e é ex-servidor do município. Receoso com as consequências, o jovem atirou na cabeça de Edilson. Três dias depois e a um mês de seu casamento, o homem morreu no Hospital de Base do Distrito Federal. O responsável por apertar o gatilho e o comparsa foram presos. O terceiro envolvido está foragido.
O presídio do município, localizado ao lado de uma escola municipal Caic, tem 150 das 200 vagas ocupadas. De vez em quando, um criminoso foge e ameaça a integridade física dos vizinhos. A Polícia Civil conta com cinco viaturas e 20 agentes em esquema de plantão 24 horas para manter Planaltina de Goiás, Água Fria (GO) e São Gabriel (GO) em paz. Segundo o delegado do Ciops do município, Fernando Alves Barbosa, cerca de 15 ocorrências são registradas na cidade diariamente. “O problema social gera, como consequência, a violência”, avaliou. A maioria das denúncias se referem a furto e roubo. “Com a abertura da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), aumentou a demanda. As pessoas estão conhecendo os seus direitos”, disse.
Familiares do assassino de Edilson e da vítima moram nas redondezas da escola onde ocorreu o crime. Volta e meia se esbarram pelo bairro. “Não roubaram a moto, nem os computadores. Só levaram a vida dele mesmo”, lamentou o irmão mais velho, Evanildo Timóteo da Silva, 33 anos. “Perdoamos a família dele, que não tem culpa de tudo isso. Mas queremos Justiça. Hoje em dia você é preso e sai logo depois”, criticou outro irmão, Evanduy Timóteo da Silva, 31. A mãe e a ex-noiva de Edilson choram ainda hoje a perda do homem. “Foi uma covardia. Ele saía do serviço e ia para a igreja. Minha mãe está inconformada”, contou o Evanildo. Edilson morava com os pais, em Planaltina de Goiás, e tinha sete irmãos.
Segundo dados do Ciops, 52 furtos foram registrados ao longo do mês de novembro — grande parte a residências. Os pedestres também sofrem com roubos: 29 ocorrências durante o mesmo período. Em terceiro lugar, aparecem ameaças à mulher, baseadas na Lei Maria da Penha e, por último, os homicídios. Em 21 de dezembro, o Correio permaneceu durante uma hora no local e presenciou o registro de uma tentativa de homicídio. Uma mulher tentara matar uma grávida de 4 meses que teria se relacionado com seu marido no passado. Pouco tempo depois, duas crianças de 13 e 11 anos chegaram à carceragem. Elas haviam acompanhado uma mulher durante 20 minutos dentro de um supermercado para roubar dela a bolsa e aproximadamente R$400. Com a cabeça baixa e as mãos para trás, foram levadas até o agente. O mais novo precisou ir ao banheiro vomitar tamanho o nervosismo.
Hospital cheio
A saúde sofre com a falta de investimentos e não acompanhou o crescimento acelerado da cidade ao longo dos últimos 10 anos. Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram inchaço de 10,7% na população local — passou de 73.718 para 81.612. Segundo a secretária de Saúde do município, Érika Patrícia Marcelina Lacerda da Silva, 62 médicos — inclusive especialistas em diversas áreas — atuam em Planaltina de Goiás. “Mas é complicado conseguir alguém exclusivo para cá. Abrimos concurso, mas ninguém quer. Então, um médico trabalha aqui e em Brasília ao mesmo tempo”, justificou. Além disso, ela criticou a cultura da população de procurar o Hospital Municipal em vez de ir ao posto de saúde mais perto de casa. “Eles não dão valor ao médico da família, querem resolver tudo rápido. Mas assim lota o hospital com a alta demanda”, disse.
Em 22 de dezembro, a porta do Hospital Municipal de Planaltina de Goiás estava cheia. Pessoas procuravam um médico ortopedista, que não trabalha nos postos espalhados pelos bairros da cidade. O vigilante Moacir Mendes da Silva, 62 anos, havia realizado uma peregrinação naquela manhã para encontrar um centro de saúde em boas condições. “Quando tem médico, falta algodão, agulha… Chegamos aqui de manhã e só conseguimos sair à noite. Hoje mesmo, o doutor só chega às 16h30. Está em cirurgia em Brasília. Isso se ele vier. Ontem, nem apareceu”, criticou. Moacir foi atropelado em 7 de setembro e, para conseguir atendimento, foi até Sobradinho e Planaltina. No dia 22, estava acompanhando um familiar e revivendo o sofrimento por que havia passado dias antes. Enquanto ele falava, outras pessoas na fila externavam a indignação.
Outro problema muito comum na cidade é a falta de infraestrutura. Antes do Natal, o asfalto parecia um queijo suíço com tanto buraco. A falta de investimento nas condições básicas de sobrevivência influencia diretamente na segurança da população. O carpinteiro Cícero Pereira da Silva, 59 anos, sente a violência próximo a sua casa. Na rua onde mora não tem asfalto, água encanada e sistema de esgoto. A fraca iluminação abre a brecha para pequenos furtos a residências e assaltos a pedestres. Segundo a Saneamento de Goiás (Saneago), 95% da cidade tem água encanada. Em contrapartida, o índice de atendimento total de esgoto em Planaltina, em 2008, era de 15,22%. “Só Deus nos guarda aqui”, desabafou. “Todos os dias eu saio 5h de casa para trabalhar. É tudo escuro aqui, dá medo”, explicou. Os netos não têm opção de diversão na região. “A gente brinca com o que tem em casa”, disse uma das crianças.
Fonte: Correio Braziliense
Marcello da Silva Batista
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