quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Doença que deixa a pele com mancha avermelhada afeta milhões de brasileiros

Mais de quatro milhões de pessoas no país sofrem de uma doença crônica de pele não tão conhecida dos brasileiros, a psoríase. Não se sabe exatamente o que a causa, mas a doença, que provoca lesões em todo corpo, é desencadeada, na maioria das vezes, por desequilíbrio no sistema imunológico ou alterações emocionais. A doença não é contagiosa, mas a falta de informações faz com que os portadores convivam com um problema maior do que o desconforto causado pelas feridas, o preconceito.

Para analisar o estigma sofrido por aqueles que sofrem da doença, uma pesquisa realizada pelo Ibope com 600 pessoas de oito capitais brasileiras constatou que a psoríase é motivo de preconceito em mais de 70% dos entrevistados. Durante o estudo foram apresentadas imagens do corpo de pacientes e sentimentos como nojo, tristeza, medo, desespero e preocupação foram as sensações mais relatadas na experiência. Em outra etapa do estudo, os participantes responderam a perguntas sobre relacionamento afetivo e profissional. Mais de metade do grupo afirmou que não contrataria uma pessoa com as lesões na pele apresentadas nas fotografias e cerca de 80% delas não namoraria e nem entraria em uma piscina que tivesse sido usada por uma das pessoas usadas para ilustrar a pesquisa.

De acordo com o especialista em dermatologia da Faculdade de Medicina de Santo Amaro (SP), Artur Duarte, a psoríase é uma doença crônica inflamatória que não tem cura — apenas tratamento efetivo — e atinge principalmente a pele, mas em alguns casos se manifesta também nas articulações. “Há uma predisposição genética associada à psoríase que aumenta as chances de o indivíduo desenvolver as lesões, mas não é possível alguém adquirir a doença por um aperto de mão ou qualquer outro contato”, esclarece. Segundo o especialista, estresse emocional e infecções facilitam o surgimento das placas avermelhadas, principal característica da psoríase. O grau de desenvolvimento da doença varia de pessoa para pessoa, alguns apresentam apenas pequenas lesões discretas nos dedos, outras ficam com as costas, joelhos e cotovelos cobertos de feridas.

Para o tratamento dos efeitos da psoríase, o dermatologista recomenda, além do uso de medicamentos específicos, a fototerapia. “O sol da manhã contribui para a melhora dos sintomas da doença.” Já o medicamento varia de acordo com a gravidade das lesões. “Quando há poucas manchas e o paciente se encontra no estágio leve da doença, é possível realizar o tratamento apenas com pomadas de uso tópico”, explica. “Mas no caso moderado a avançado é necessário também a indicação de quimioterápicos e medicamentos imunobiológicos.”

Para o especialista, terapias como acupuntura podem ajudar a estabilizar o comportamento emocional, o que contribui para amenizar o desenvolvimento dos sintomas. Quanto ao preconceito, Artur Duarte ressalta que a maioria das pessoas se assusta com o aspecto das lesões causando o repúdio. “O que falta é informação.”

Curtir a vida
Aos 21 anos de idade, a técnica em enfermagem Marlene Moura, hoje com 64, apresentou os primeiros sintomas de psoríase na região próxima ao joelho. “Não fiquei triste quando recebi o diagnóstico porque não tinha noção do que seria a doença”, lembra. Mas foi aos 23 anos que a psoríase incomodou mais. “Meus braços, abdômen e coxas ficaram cobertos de manchas vermelhas e coçavam muito. Cheguei a ficar internada no Hospital Universitário de Brasília, onde fiz uma série de exames e tratamentos diferentes com dermatologistas e psicólogos.”

Desde então, Marlene convive bem com a doença. “Hoje, ela está estabilizada, tenho apenas poucas lesões nas pernas e braço, que trato com pomada”, explica. “Nunca deixei de curtir minha vida por causa do que os outros pensam. Ia muito à praia e quando as pessoas se espantavam e perguntavam o que era aquilo na minha pele respondia em tom de brincadeira: é praga de mãe.”
Marlene se lembra do preconceito explícito: “Até no hospital onde eu trabalhava existia desconhecimento sobre a psoríase e por isso ia sempre de calças compridas para evitar problemas. Algumas vezes me mandavam dobrar gases em vez de tratar diretamente com os pacientes”, diz.

Fonte: Correio Braziliense

Marcello da Silva Batista

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