O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, classificou como "ultrajantes e ofensivos" os comentários feitos nesta quinta-feira em Nova York pelo líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, segundo quem os ataques de 11 de Setembro podem ter sido apenas uma farsa apoiada pelo próprio governo americano.
O presidente "achou os comentários ultrajantes e ofensivos, considerando que estamos tão perto do "ground zero' [local dos atentados]", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, à rede americana CNN.
Em seu discurso a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, Ahmadinejad explicou que há três teorias sobre os ataques de 11 de Setembro.
A primeira: que um "grupo terrorista poderoso e complexo" conseguiu passar pelo sistemas de inteligência e segurança dos EUA. A segunda: "que alguns segmentos dentro do governo dos EUA orquestraram o ataque para reverter o declínio da economia americana e seu controle no Oriente Médio, também para salvar o regime sionista" --segundo o iraniano, "a maioria do povo americano, bem como de outras nações, e políticos concordam com essa visão".
Foi a gota d'água. Nesse momento, a delegação americana na ONU levantou-se e deixou o auditório sem ouvir a terceira teoria: de que o ataque foi obra de "um grupo terrorista, mas que o governo americano apoiou e tirou vantagem da situação".
Segundo Ahmadinejad, os atentados teriam servido como desculpa para invadir o Iraque e o Afeganistão. "Foi dito que cerca de 3.000 pessoas foram mortos em 11 de Setembro, o que nos deixa muito entristecidos. Porém, até agora no Afeganistão e Iraque, centenas de milhares de pessoas foram mortas, milhões feridas e desabrigadas, e os conflitos ainda continuam e crescem."
O iraniano defendeu que invadir um país "usando como justificativa a liberdade" é um crime que não pode ser perdoado.
Várias delegações europeias também saíram. Um diplomata europeu disse que todas os 27 países-membro tinham concordado em sair se Ahmadinejad fizesse declarações inflamadas em seu discurso.
"Em vez de representar as aspirações e a boa vontade do povo iraniano, o senhor Ahmadinejad novamente escolheu declamar teorias conspiratórias repugnantes e calúnias antisemitas, que são tão detestáveis e ilusórias quanto previsíveis", afirmou o porta-voz da missão americana da ONU, Mark Kornblau, em comunicado logo após as declarações polêmicas do iraniano.
MAIS POLÊMICA
A retirada em massa não intimidou o líder iraniano, já acostumado com esse tipo de reação a seus discursos polêmicos. Ele criticou ainda o sistema capitalista, defendeu o direito dos palestinos "exercerem sua soberania e escolherem seus líderes" e comentou a questão nuclear.
"Foi dito que as potências querem pressionar o Irã para o diálogo, mas o Irã sempre esteve pronto para o diálogo", disse o iraniano, que citou ainda a iniciativa de Brasil e Turquia para se chegar a um acordo de troca de combustíveis nucleares, que "recebeu uma reação inapropriada das potências".
Em maio, a Turquia e o Brasil mediaram em Teerã um acordo de troca de combustível nuclear iraniano, esperando que isso atrairia o Irã e as grandes potências de volta à mesa de negociações, mas as seis potências reagiram ao plano com frieza.
Ahmadinejad citou rapidamente as quatro rodadas de sanções impostas ao país pelas Nações Unidas por causa de seu programa nuclear. Segundo ele, alguns membros do Conselho de Segurança da ONU "igualaram energia nuclear com bombas nucleares".
Também acusou os EUA de construir um arsenal nuclear em vez de se desarmar, e reiterou seu pedido para um mundo livre de armas nucleares.
Ahmadinejad defendeu a reforma da ONU "para que todos os países possam participar", e criticou a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança, como instituições monopolizadas pelas grandes potências. Ainda criticou a figura do secretário-geral da ONU, dizendo que deveria ser independente e não sofrer pressão.
O polêmico presidente ainda citou as ameaças de queimar o Alcorão, planejadas por uma pequena igreja americana na Flórida para marcar o aniversário do 11/9. Apesar de a igreja ter voltado atrás, deu origem a vários vídeos de pessoas queimando o livro sagrado muçulmano, publicados na internet e divulgados no mundo muçulmano.
"Muito recentemente o mundo testemunhou o ato feio e desumano de queimar o sagrado Alcorão", disse Ahmadinejad.
Fonte: UOL
Marcello da Silva Batista
Nenhum comentário:
Postar um comentário